Apresentação
 O material Mão na massa... preparatório para o Exame Celpe-Bras foi elaborado pensando na formação de um cidadão crítico para (inter)agir em português. Tem como público-alvo estrangeiros com nível intermediário de português, uma vez que objetiva, primeiramente, proporcionar o aprimoramento da proficiência em português como língua estrangeira para um bom desempenho em exames de certificação como o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras1). Assim, o material foi elaborado pensando nos estrangeiros que desejam atingir um nível de excelência no uso da língua portuguesa no Exame Celpe-Bras e, consequentemente, na vida real.
 Organizado em 6 (seis) Unidades Didáticas, o material foi preparado a partir de um levantamento dos gêneros textuais mais recorrentes nas provas do Exame Celpe-Bras, contemplando temáticas que circulam na mídia impressa e digital no Brasil e no mundo. O material está focado em uma abordagem de ensino que privilegia a (inter)ação, de modo a levar o aprendiz a compreender (textos orais e escritos), falar e escrever em português apoiados em aspectos contextuais e linguístico-culturais que caracterizam uma variedade de situações de uso da língua. Isso quer dizer que a aprendizagem do léxico e da estrutura da língua não acontece em um vácuo, mas sim de forma contextualizada e significativa.
 Já é sabido que ter conhecimento de listas de vocabulário e de infinitas regras de gramática não significa, necessariamente, capacidade de produzir textos adequados para as situações de uso do português no dia a dia. Na hora de falar e escrever o que ajuda mesmo é ser capaz de fazer escolhas, a partir de um repertório ampliado de palavras, de estruturas de língua, de organização de textos e outros aspectos, considerando qual é o propósito da comunicação e com quem interagimos.
 Quando o foco é o uso da língua portuguesa, o maior desafio para preparar o aprendiz é oferecer oportunidades de exploração dos aspectos linguístico-culturais a partir da demanda de produção de textos adequados a diversas situações de comunicação, às quais o aprendiz estará exposto fora da sala de aula, e não esgotar as regras gramaticais de um aspecto da língua portuguesa ou de outro, sem considerar o impacto que usá-las (ou não) terá no momento da interação. Para isso, propor atividades que tenham como ponto de partida textos que circulam socialmente (no caso na prática da leitura e da escuta) e que tenham potencial de circular socialmente (no caso da prática da escrita e da fala) é fundamental. Esses textos, não cumprem esse propósito sozinhos, é preciso que o professor tenha conhecimento das concepções que fundamentam esta abordagem de ensino e que promova oportunidades de integrar as práticas de linguagem por meio de atividades que tenham potencial de autenticidade, numa perspectiva que leve o aluno a valorizar a sua própria cultura, reconhecendo-a nas diferenças e semelhanças que a exposição a outras culturas oportuniza.
 Só fala e escreve quem pratica, e olhar para a própria fala ou escrita pode ajudar muito. Neste sentido, o material Mão na massa... preparatório para o Exame Celpe-Bras também se ancora na concepção de avaliação como mediadora no processo de ensino-aprendizagem, incluindo a autoavaliação, uma vez que reconhece o aluno como protagonista na aprendizagem da língua portuguesa. De forma mais sistematizada no conjunto de atividades voltadas para o desenvolvimento da produção escrita no material, a organização do trabalho nas Unidades Didáticas se aproxima muito da concepção de sequência didática, uma vez que preveem: preparação do aluno para a produção inicial de um texto escrito, a intervenção do professor para que a produção inicial seja melhorada, percepção pelo próprio aluno do que precisa ser melhorado e refacção2/reescrita do texto inicial. A produção inicial é fundamental para que o professor conheça seu grupo, observe que tipo de inadequações são mais recorrentes, para que, a partir do diagnóstico, possa abordar esses pontos durante as próximas atividades direcionadas à aprendizagem de características de aspectos contextuais (adequação ao interlocutor, ao propósito do texto, ao formato etc.) e de aspectos linguístico-culturais (adequação de vocabulário, gramática, registro, coesão, coerência e outros, que marcam culturalmente o português do Brasil e refletem a diversidade cultural brasileira), considerando sempre quem fala, para quem e porquê. Todo esse trabalho é apoiado pelas práticas da oralidade, ao mesmo tempo que sustenta os momentos de produção de textos orais mais especificamente.
 Todas essas concepções que dão base ao material Mão na massa... preparatório para o Exame Celpe-Bras estão contempladas na forma de organizar a sequência de seções e de atividades nas Unidades Didáticas, que partem dos conhecimentos que o aluno já tem e vão gradativamente proporcionando o contato com conhecimentos novos, de modo a levar o aluno a produzir textos, orais e escritos, muito semelhantes àqueles produzidos na vida real. Quem é o autor do texto? Com quem fala ou para quem escreve? Por quê? Se respondemos a essas perguntas, pensando em diferentes situações de comunicação, vamos perceber que o certo e o errado são relativos. Então, aprender o que é mais (ou menos) apropriado para se usar em determinados momentos é o caminho para que o aluno de português possa usar, dentro e fora da sala de aula, a língua que aprende.
 A transposição de todos esses conceitos está refletida nas 6 (seis) Unidades Didáticas do material, sendo que cada Unidade Didática está organizada em 7 (sete) seções, a saber: 1. Pontapé inicial, 2. Mãos à obra, 3. Pingos nos is, 4. Na ponta da língua, 5. Metamorfose, 6. Bate papo e 7. Teia de ideias. É importante que o objetivo de cada seção esteja bem claro para professores e alunos, que serão protagonistas da aprendizagem.

Pontapé inicial
Seção que tem como objetivo explorar a compreensão, seja oral ou escrita, considerando que toda a produção no Celpe-Bras tem como ponto de partida a compreensão. Na Parte Escrita, compreensão de áudio, de vídeo ou de texto escrito; e na Parte Oral, compreensão da fala do interlocutor e dos Elementos Provocadores. Além dessa característica geral da seção, que explora o texto de recepção que subsidiará a produção escrita, serão abordadas: 1. estratégias de tomada de notas (para ajudar o aprendiz a se preparar para a produção do texto escrito); 2. estratégias de identificação de elementos constitutivos do gênero a partir do comando da tarefa (para que o aprendiz seja capaz de se orientar pelo enunciado para selecionar as informações para a escrita de seu texto, os aspectos linguístico-culturais, o formato etc.) e 3. estratégias de localização e interpretação de informações em um texto e levantamento de conhecimento de mundo sobre o assunto abordado.

Mãos à obra
Seção que tem como objetivo a produção de um texto escrito sem orientação ainda sobre as características do gênero solicitado. A partir da produção dos alunos, o professor fará um diagnóstico das dificuldades dos alunos (tanto na adequação contextual quando na adequação linguístico-cultural) para que possa intervir durante o trabalho nas próximas seções. Este texto precisa ser lido pelo professor, mas não deverá gerar retorno imediato ao aprendiz. Com o conhecimento das dificuldades mediante as características do texto solicitado, o professor vai ajudando o aprendiz a identificar suas próprias dificuldades até chegar no momento de reescrita do texto inicial, o que se dá na seção “Metamorfose”.

Pingo nos “is”
Seção que tem como objetivo levar o aprendiz a (re)conhecer características contextuais como parte dos elementos constitutivos do texto solicitado na seção “Mãos à obra”. Nesta seção, são apresentadas atividades que levam os aprendizes a aprimorarem seus conhecimentos sobre os aspectos contextuais do texto escrito solicitado (quem escreve, para quem, com que propósito, em que formato e outros). É de extrema importância que o professor tenha feito o diagnóstico das dificuldades nas produções iniciais dos aprendizes. Isso não quer dizer que o professor tenha que apontar no texto deles os problemas, basta estar ciente das dificuldades para poder conduzir esta seção de modo que atenda às necessidades específicas de seus alunos. Nenhum material será 100% adequado para todos os grupos de aprendizes, cabe ao professor fazer ajustes no material para promover a aprendizagem de seus alunos.

Na ponta da língua
Seção que tem como objetivo levar o aprendiz a (re)conhecer características linguístico-culturais como parte dos elementos constitutivos do texto solicitado na seção “Mãos à obra”. Nesta seção, são apresentadas atividades que levam os aprendizes a aprimorarem seus conhecimentos sobre os aspectos linguístico-culturais que o texto solicitado demandou. É nesta seção que o vocabulário, a gramática, o registro e outros aspectos devem ser explorados, sempre considerando as características do texto escrito solicitado. Não é o momento de explorar tudo o que diz respeito a esses aspectos linguístico-culturais, mas sim aquilo que realmente vai ajudar o aprendiz a (inter)agir em português naquela determinada situação de comunicação. Assim como na seção anterior, é de extrema importância que o professor tenha feito o diagnóstico das dificuldades nas produções inicias dos aprendizes para que possa atender às necessidades específicas de seus alunos. Novamente, nenhum material será 100% adequado para todos os grupos de aprendizes, cabe ao professor fazer ajustes no material para promover a aprendizagem de seus alunos. Neste momento, ainda vale considerar as especificidades das línguas de origem dos aprendizes. Quem vai ter mais conhecimento da relação entre o português e a língua de origem (ou outras línguas de proficiência) dos aprendizes é o professor, tendo, por isso, mais autoridade/competência do que os autores do material para considerar o que deverá ser mais ou menos aprofundado de acordo com aquele contexto.

Metamorfose
Seção que tem como objetivo orientar os alunos para a refacção/reescrita do texto produzido na seção “Mãos à obra”. É importante que o professor não aponte as inadequações na primeira versão do texto e sim explore com propriedade os critérios que são propostos nesta seção de cada Unidade Didática. Esses critérios aparecem no formato de lista de verificação e de outros instrumentos, para que o próprio aprendiz, depois de ter trabalhado nas seções anteriores com aspectos contextuais e linguístico-culturais do texto solicitado, esteja preparado para ler seu texto de novo e reescrever fazendo os ajustes necessários. Por que isso é importante? O aprendiz precisa desenvolver autonomia para a escrita. É preciso entender que a refacção/reescrita é uma etapa fundamental no desenvolvimento da escrita. Só se aprende a escrever, escrevendo. Se o professor não considerar a importância desta etapa, muito provavelmente não vai tirar proveito dela e muito menos os aprendizes irão. Caso o professor queira ainda apontar as inadequações para que os alunos observem e pratiquem de forma mais consciente, é importante considerar que isso seja feito na segunda versão e não na primeira. O professor pode negociar com os alunos formas de se fazer isso (apontamentos no texto usando legendas, comentários, questionamentos etc.). O texto está sempre em processo de construção. A reescrita é um reflexo do inacabado, está em constante transformação.

Bate papo
Seção que tem como objetivo o desenvolvimento da produção oral, de modo a levar o aprendiz a produzir textos orais de diferentes gêneros, em diferentes situações de comunicação (apresentação oral, exposição de ideias, debate, defesa de pontos de vista etc.). É importante perceber que nas outras seções da Unidade Didática a compreensão e a produção oral também estão presentes o tempo todo, mas para mediar o processo de escrita, que é o objetivo final. Nesta seção, por outro lado, é a compreensão e a produção escrita que aparece como mediadora da produção oral. Com isso, a seção explora: compreensão oral e escrita sobre assuntos variados; expressão de opiniões e experiências pessoais acerca de assuntos abordados; relação entre perspectivas e elementos culturais do país de origem do aluno; além de contraste entre aspectos socioculturais do Brasil e de outros países, oportunizando, assim, discussão e reflexão acerca da diversidade cultural. Também almeja levar o aprendiz a expandir seus conhecimentos sobre o uso de aspectos linguísticos próprios da língua falada e outros já explorados na escrita, como é o caso dos marcadores/articuladores discursivos. A diferença é que eles serão explorados considerando as especificidades da língua falada. No caso dos marcadores/articuladores, por exemplo, é importante que os aprendizes aprendam elementos chave que servem para: o preenchimento de pausas enquanto se pensa para falar; a sinalização de tomada de turno em uma conversa; a introdução de uma argumentação acerca do assunto discutido, dentre outros.

Teia de Ideias
Seção que tem como objetivo apresentar uma atividade extra de produção de texto escrito, a partir de outra tarefa nos moldes da tarefa solicitada na seção “Mãos à obra”, para ajudar os alunos a sistematizarem tudo o que foi discutido na Unidade Didática. A refacção/reescrita do texto solicitado nesta seção poderá ser exigida apenas dos alunos que demonstrarem desempenho insatisfatório. Esta, na verdade, é uma seção extra, o professor deve explorá-la considerando o nível de proficiência de seus alunos, de interesse, de tempo etc. É sugerido que o texto desta seção seja avaliado e devolvido ao aluno como um produto final, ou seja, como realmente acontece em um exame de proficiência como o Celpe-Bras. Isso quer dizer que depois de passar por todo o processo de produzir, revisar e reescrever um texto pertencente a um determinado gênero, com o apoio do professor, o aprendiz é exposto à outra produção, que se assemelha à inicial, para que o aluno pratique mais um pouco. A produção desse texto pode ser, inclusive, realizada em sala de aula, com tempo e extensão determinados como um simulado para o Exame. É importante lembrar que para se chegar a este resultado, é fundamental que as seções anteriores tenham sido trabalhadas como as autoras do material propõem, pois estão implicadas nessa sistematização um conjunto de concepções que precisam ser entendidas e praticadas por professores e alunos.

 Considerando o objetivo das seções, cada Unidade Didática (UD) passa a explorar conteúdos que se articulam ao longo do material. Maiores detalhes acerca do conteúdo explorado em cada Unidade encontram-se nos Quadros Descritivos das Unidades Didáticas, que está organizado pelas seções anteriormente apresentadas, e orientações para melhor explorar as atividades são comentadas e explicadas no Manual do Professor. Os áudios e vídeos de cada Unidade estão hospedados em www.editorialcasadobrasil.com.ar Para finalizar esta apresentação, ficam algumas recomendações aos utilizadores deste material.
 Embora a prática da correção esteja sempre muito presente nos cursos de línguas, convidamos todos a usarem a avaliação (que é entendida aqui para muito além da correção) como um meio para o aluno aprender e para o professor ensinar. A produção escrita inicial sem muita orientação do professor servirá para observar o que já se sabe e para identificar as dificuldades (lacunas) que ainda precisarão da intervenção do professor. Uma discussão com os alunos com base na primeira versão do texto é de grande eficácia: o aluno descobre as dimensões que vale a pena melhorar, as novas metas a superar, enquanto o professor compreende melhor as necessidades dos alunos e a origem de algumas das inadequações presentes nos textos. Essa discussão deve ocorrer enquanto estiverem sendo exploradas as Seções “Pingos nos is” e “Na ponta da língua”, para que quando chegue na seção “Metamorfose” o aluno seja capaz (e esteja preparado) para fazer uma autoavaliação de seu próprio texto e reescrevê-lo. Isso ajuda a desenvolver a autonomia e a produção em contexto de aprendizagem de línguas.
 Os auxílios externos, os suportes para regular as primeiras etapas da escrita e da fala são muito importantes, mas, pouco a pouco, os alunos devem aprender a reler, a revisar e a melhorar os próprios textos, introduzindo, no que for possível, um toque pessoal de criatividade. No que diz respeito à língua falada, a gravação e a retomada de pontos percebidos pelo próprio aluno, pelo professor e pelos próprios colegas podem ajudar muito.
 Como todo material didático, este conjunto de atividades distribuídas em 6 (seis) Unidades Didáticas foi elaborado para que professores e aprendizes (inter)ajam em português dentro e fora de aula.


Viviane Bagio Furtoso
Coordenadora
Fabricio Müller / Luiz Carlos Folster
Projeto, Direção e Produção Editorial

1 O Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras) é o exame brasileiro oficial para certificar proficiência em português como língua estrangeira. O Exame é aplicado anualmente no Brasil e no exterior pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com apoio do Ministério da Educação e em parceria com o Ministério das Relações Exteriores do governo brasileiro. As provas são realizadas em Postos Aplicadores: Instituições de Educação Superior, representações diplomáticas, missões consulares, centros e institutos culturais, e outras instituições interessadas na promoção e difusão da Língua Portuguesa. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/guest/acoes-internacionais/celpe-bras

2 Processo de reescrita de texto que, através do desenvolvimento de uma atitude crítica, possibilita ao aluno que o produziu modificá-lo várias vezes, tornando-o mais claro e objetivo à leitura. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/busca?id=e3wlX